06 janeiro 2006

O servo músico e o filho

As pessoas me perguntam o porquê de não estar tocando, o porquê de não estar compondo, o porquê do meu silêncio, e isso já tem algum tempo. Já tem algum tempo que não executo notas com precisão, que não faço música e não toco "corações" como deveria.
Os motivos? Minha música é reflexo de minha vida. Estou tocando pausas. As pausas são as melhores notas, são vazios, são espaços, ausência de som... Em outras palavras, as pausas são necessidades. Precisamos do silêncio, do espaço, para valorizarmos a nota, o som.
Se minha música é minha vida, então minhas notas são partes de mim. Como irei cantar se meu momento pede pausas? Talvez a melhor forma de expressar meu momento são as duas letras que deixo a seguir:

Em mim primeiro
(CD Nós - Banda Taus)

Já faz tempo que eu não pego o violão
E canto pra você uma canção, que nunca se cantou
Que te fale com clareza como estou
Mostrando a ti toda a minha dor,
aquela que conheces bem

Se meu canto não faz algo em mim primeiro
De que vale essa vontade de cantar
A nossa força está naquilo que vivemos
Deixe que a vida chegue junto pra cantar

Pra cantar temos que dar todo louvor
Olhar nos olhos de nosso Senhor, nos fazer reconhecer
Sentir que ele nos conhece é bom demais
Que nos estende a mão nos faz capaz,
de cantar com o coração

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Sangrando
(Gonzaguinha)

Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando

Quando eu abrir a minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir esteja certa
Que estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda raça e emoção

E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante
Cante que o teu canto
É minha força pra cantar

Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar

Engraçado, né! Já ouvi dizer que pelo simples fato da música ser de alguém não religioso, quer dizer que não é de Deus. Me respondam se o dom escolhe o dono em que virá.
Oras! Se o dom da arte nos traz reflexão de vida, se o que ouvimos melhor expressa nosso sentimento, porquê não cantar também? "Se meu canto não faz algo em mim primeiro, de que vale essa vontade de cantar"?
"Quando eu soltar a minha voz, por favor entenda. É apenas o meu jeito de viver o que é amar".

02 janeiro 2006

Amor x Dor

Por experiência própria, aprendi que pessoas teimosas sofrem mais e demoram mais para crescer porque costumam ser cegas e surdas às coisas que acontecem ao seu redor. Não que sejam totalmente “obtusas”, ao contrário, elas também são muito emotivas e frágeis, mais até do que imaginamos. Elas apenas têm como preferência, ainda que inconsciente, o aprendizado da vida pelo segundo método de Deus: a dor.
Os motivos delas serem assim? Só Deus sabe. Quem sabe querem se mostrar fortes, seguras, auto-suficientes... Mas vamos ao que interessa.
Normalmente, quando acreditamos demais em nossa capacidade, em nosso potencial, nos tornamos de certo modo egoístas, arrogantes, individualistas, ou seja, temos uma falsa força e não há muito espaço para deixarmos o outro (qualquer pessoa ao nosso lado) se manifestar, inclusive Deus. Um exemplo claro é Saulo de Tarso, ou simplesmente Paulo. Homem forte, decidido, arrogante, o must, o cara. Precisou perder um de seus sentidos para ver que era alguém como qualquer outro, frágil.
E quantos outros exemplos mais nós temos na vida? Homens riquíssimos, abastados em dinheiro, poder, e tão dependentes de amor, de carinho, de afeto, de reconhecimento, de palavras de ânimo, enfim, de coisas que não podem ser compradas e que não medem grandeza. Muitos deles acamados, doentes fisicamente, psicologicamente ou emocionalmente porque também se achavam o must.
Então! O mesmo Paulo aprendeu que sua força de nada vale, o que vale é sua fraqueza, sua fragilidade, sua humildade em cometer erros e reconhecê-los diante de todos, sua fragilidade em expor sua vida e deixá-la transparente para que vejam às claras e saibam o quanto é pecador.
O mesmo Paulo aprendeu que sua fraqueza, suas dores por seus pecados são que o deixa sensível às obras de Deus, às maravilhas que podem ser feitas enquanto é instrumento.
Não devemos ter vergonha de chorar, de nos apresentamos frágeis e de que somos dependentes dos outros, principalmente de Deus, porque é isso que realmente somos, incompletos. E assim como Paulo também nós devemos dizer (...) ele me disse: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força.” Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte. – II cor 12, 9s

Para finalizar essa reflexão deixo duas lindas letras da Banda Anuncia-me, a primeira está no Bem Aventurados (1995), a segunda nem chegou a ser gravada. E que meu canto fale em mim primeiro.

Obra incompleta
(Helen Cri)

Não há nada que possa fazer
Pra que Deus te esqueça
Ele sempre te amará
Esteja onde estiver, onde estiver

Foi Deus quem fez cada traço teu
E o fez com imenso amor
Só Ele conhece o que guardas em seu interior
Em cada traço teu
Um pouco dEle, Ele deixou

Serás obra incompleta enquanto ignorar o Seu amor
Não há nada que possas fazer pra que Deus te esqueça

Lágrimas

Lágrimas
são como dedos do Senhor
tocando um coração
nos mostrando que a vida tem decepções
e que às vezes nos ensina pela dor.

Desanima não.
Continua em frente, segue adiante,
Amando o irmão
Deixa as dores para os dedos do Senhor

Louva
e agradece ao que te aconteceu
o louvor abre as portas do perdão

Louva,
Há motivos para agradecer,
Pois os fracos têm a força do Senhor
A força do Senhor.